calendar_today junho 3, 2021 person Portal Maloca mode_comment 0

O Corvo. Um clássico em forma de ópera, uma ópera em forma de animação. O poema “O Corvo”, de 1845, do escritor norte-americano Edgar Allan Poe, foi adaptado para uma ópera de câmara pelo compositor brasileiro Eduardo Frigatti e estreará no Festival Amazonas de Ópera (FAO), no dia 13 de junho, às 19h, acompanhada de um filme animado.

O compositor paranaense, que recentemente concluiu o doutorado em Composição pela Escola de Comunicações e Artes (ECA), na Universidade de São Paulo (USP), baseou-se na versão do poema de Poe traduzida por Machado de Assis. Frigatti compôs e também escreveu o libreto da obra, que vai contar com a Amazonas Filarmônica e o Coral do Amazonas.

“‘O Corvo’ é um clássico. Nesta liquidez do mundo contemporâneo, os clássicos são ancoradouros. A obra é uma reflexão sobre o luto. Há nas sociedades atuais um culto à juventude e ao hedonismo superficial – Carpe Diem à la fast food. A pandemia nos impôs uma reflexão sobre a morte. Por isso, ‘O Corvo’, um poema clássico, que resgata elementos da cultura clássica em sua técnica formal e trata de um tema universal”, comenta o compositor, sobre os motivos para adaptar a obra.

A versão machadiana, de acordo com o compositor, foi a utilizada por ressaltar a narrativa do poema. “Há várias traduções excelentes para o português deste poema. Após ponderar entre algumas delas, decidi pela tradução (diria, recriação) de Machado de Assis. O drama é fundamental para uma boa ópera. Na tradução de Machado, o conflito interno do narrador é claro, e o crescimento de sua tensão até o final do poema é percebido com facilidade”.

O primeiro grande desafio para adaptar a obra foi criar o libreto e extrair do poema um “arco dramático operístico”, explica Frigatti.

“Um segundo desafio foi encontrar uma boa síntese entre o meu estilo pessoal e as demandas expressivas do texto. Todo som tem um potencial expressivo. É uma ‘equação’ complexa encontrar os sons que exprimam a expressividade que o texto demanda e dar-lhes uma forma no tempo, que mantenha o ouvinte atento e que também demonstre a minha assinatura composicional. Foram feitos vários esboços”, ressalta.

Animação

A ópera “O Corvo” será a única a ganhar uma animação dentro do FAO. Para a adaptação do libreto, a direção do FAO convidou a roteirista Carolina Mestriner, e para a animação, Ana Luisa Anker (produção executiva e animação), Giorgia Massetani (direção de arte e desenhos), Renato Zecheto (animador e assistente de desenhos), Samantha Audi (animadora) e Fernando Chade de Grande (animador).

Eduardo Frigatti pontuou que uma referência visual para a animação foi o cinema expressionista alemão. “O filme ‘O Gabinete do Dr. Caligari’ se tornou um ponto de partida para o processo de elaboração do roteiro e dos desenhos”, afirma.

“Uma vez decidido o roteiro e feito os primeiros esboços dos desenhos, continuei a acompanhar o trabalho criativo da equipe de animação a distância. Com essa liberdade, a equipe criou uma animação lindíssima, combinando desenhos e fotografias, com uma ambientação incrível. Estou fascinado!”.

Primeira obra no FAO

Esta é a primeira ópera do compositor paranaense e foi encomendada especialmente para o FAO. Para ele, a edição deste ano é especial por dar ênfase à música brasileira e contemporânea.

“É uma grande honra poder participar do FAO. É um festival único na América Latina. Não há iniciativa como esta em nenhum outro país. É algo fantástico. Fico muitíssimo feliz pela oportunidade. Além disso, para um jovem compositor como eu, é uma vitrine, uma oportunidade de alcançar um público maior e de mostrar a minha maturidade artística”, declara.

Fotos: Divulgação