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Um triângulo amoroso em meio a uma pandemia, que tem como meio principal de interação as redes sociais, se desenvolve na ópera “Três Minutos de Sol”, do compositor Leonardo Martinelli, com libreto de João Luiz Sampaio.

A montagem estreia no 23º Festival Amazonas de Ópera (FAO), abrindo a programação do evento, no dia 6 de junho. Neste ano, a programação do festival será transmitida inteiramente on-line por meio do Facebook e Youtube da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (@culturadoam), e também pelo canal do Youtube do FAO (festivalamazonasdeoperafao).

“Três Minutos de Sol” é uma ópera em ato único, dividido em três cenas de aproximadamente 10 minutos cada. Na história, o público é apresentado aos personagens Laura (a soprano Lina Mendes), Duda (o contratenor Sávio Faschét) e Marcos (o barítono Vitor Mascarenhas). A estreia conta com a direção de cena de Julianna Santos, e os solistas são acompanhados por músicos da Amazonas Filarmônica. A obra foi encomendada especialmente para o FAO.

Natural de São Paulo, o professor, pesquisador e compositor da ópera Leonardo Martinelli explica que a ideia de ‘Três Minutos de Sol’ surgiu da mudança de relações ocasionada pelo isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19 e a vontade de transpor isso em música.

“A mudança de relações em todo o planeta, o registro que os jornais faziam sobre as mudanças de comportamento, ver na minha própria rede social como as pessoas estavam lidando com isso, meu cotidiano de isolamento e dos meus amigos, tudo isso fez com que eu quisesse tratar esse tema em uma ópera”, conta. “Eu sempre vejo a ópera como um lugar no qual os compositores e os libretistas falavam de coisas do seu tempo. Esse tema é algo excepcional do nosso tempo”, ressalta.

 

Três Minutos de Sol

A partir dessa mudança de relações no mundo, Martinelli e o libretista João Luiz Sampaio chegaram a um tema comum na ópera e na história da humanidade, segundo o compositor, o triângulo amoroso.

 

“Eles interagem por meio de um aplicativo, e em algum momento acaba evoluindo para uma relação de afeto e desejo entre os três. O problema ocorre quando, em um momento específico, Marcos propõe a Laura uma coisa a dois, excluindo Duda, e aí existe todo um ato de mágoa e sofrimento a partir dessa decisão”, pontua Martinelli.

 

Martinelli afirma que a ópera foi pensada para que a personagem Duda, que no FAO será interpretada pelo contratenor Sávio Faschét, também possa ser interpretada por uma mulher (contralto). “É justamente a gente abrir a ópera para diferentes combinações e trabalhando também outra questão do nosso tempo que é a diversidade sexual e essa nuance dos relacionamentos afetivos, que está sendo tratada às claras nesta ópera”.

Festival Amazonas de Ópera

A 23ª edição do FAO será realizada de 6 a 20 de junho, com óperas e concertos gravados, recitais transmitidos ao vivo, webinars e masterclasses on-line, entre outras atrações. Adiado por conta da pandemia de Covid-19 em 2020, o FAO será totalmente dedicado a compositores e intérpretes brasileiros.

Seguindo os protocolos de segurança e prevenção contra o novo coronavírus, o FAO tem uma produção inovadora este ano. As orquestras dos Corpos Artísticos gravam, em dias alternados, áudio e vídeo das obras em Manaus, no Teatro Amazonas, e os solistas gravam as vozes em São Paulo, onde também é trabalhada a parte cênica. O material é, então, reunido e editado para dar vida às óperas e aos concertos. Os grupos de músicos também são reduzidos, em formato de câmara, para evitar aglomerações e facilitar o distanciamento social.

 

De acordo com Luiz Fernando Malheiro, o FAO não exaltará apenas os compositores contemporâneos, mas realizará um panorama de 165 anos de repertório brasileiro.

 

“É importante salientar a filosofia desta edição do festival de priorizar nossos artistas. Muitos sofreram e foram prejudicados por conta da pandemia, e por isso decidimos trabalhar apenas com profissionais brasileiros e também com repertório brasileiro. Teremos obras desde o século 19 até os dias atuais”, assinala o diretor artístico.