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Uma das atrações do 23º Festival Amazonas de Ópera, a ópera “Moto-contínuo” vai abordar a busca por sentido, por meio da ficção científica. A atração será exibida no festival, realizado de forma on-line, entre 6 e 20 de junho.

No roteiro, a inventora recebe a visita de um homem, no Centro da Terra, que pede a construção de uma máquina que pode se mover eternamente. Mais do que ficção científica, a ópera “moto-contínuo”, do compositor Piero Schlochauer, que encerrará o Festival Amazonas de Ópera (FAO), no dia 20 de junho, trata de algo mais profundo.

Neste ano, o FAO está sendo realizado em formato on-line, pelo canal do Youtube do FAO (festivalamazonasdeoperafao) e redes sociais da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (@culturadoam).

 

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Realizado pelo Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa e da Agência Amazonense de Desenvolvimento Cultural, o festival está sendo produzido inteiramente com verba da iniciativa privada, por meio do Bradesco e da Motorola, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, Ministério do Turismo e Secretaria Especial de Cultura.

Conta ainda com parceria do canal Allegro HD e TV Encontro das Águas, e com o apoio do Catavento Museu de Ciências e da Importadora Carioca.

Com libreto de Beatriz Porto, Isabela Pretti e do próprio Piero, “moto-contínuo” é uma ópera de ato único, com cerca de 30 minutos de duração, escrita para um quinteto de sopros (flauta, oboé, clarinete, trompa e fagote), tímpano e dois percussionistas, e terá a participação da Amazonas Filarmônica, com os solistas Juliana Taino (mezzo-soprano) e Erick Souza (barítono).

Segundo o orquestrador, arranjador, pianista e compositor Piero Schlochauer, o argumento para a história surgiu em um processo conjunto do trio. 

 

“Quando recebi o convite do maestro Malheiro soube imediatamente que queria trabalhar com elas, são amigas que eu conheço há anos e tenho muito carinho e confiança nas suas sensibilidades dramáticas e artísticas. Nas nossas conversas – todas à distância por sinal – fomos trocando inspirações, lendo textos e discutindo ideias. A ideia inicial era adaptar algum conto brasileiro, mas aos poucos foi amadurecendo um texto original, criado a partir das nossas impressões e inspirações, em particular sobre os textos de José Saramago e Clarice Lispector”, explica Piero. 

 

Um moto-contínuo, que dá nome a obra, é uma máquina hipotética que utilizaria a energia de seu próprio movimento indefinidamente. Uma máquina impossível, uma vez que sua ideia viola leis da termodinâmica.  “A invenção em si, o moto-contínuo, foi uma das últimas ideias a serem discutidas. Os impulsos e as ânsias das personagens em cena vieram primeiro e foram os elementos norteadores da construção da narrativa”, pontua o compositor.

Piero ressalta que a ópera inteira se estrutura num diálogo ininterrupto entre a inventora e o homem que a visita. Apesar de passar a impressão de ficção científica que poderia ter saído de um dos livros do escritor francês Júlio Verne, Piero garante que o ponto central da obra é outro.

 

“O verdadeiro cerne da questão é a dinâmica entre os dois nessa eterna busca por sentido, que não se sabe qual é. O texto em si, nas palavras ditas e cantadas, nem é tão metafórico: os diálogos poderiam ser ditos por qualquer um. Mas a concepção do todo dá espaço para muitas leituras e interpretações diferentes, o que sempre traz uma experiência rica para o público”, ressalta.

 

Sobre a produção e os solistas escolhidos, o compositor revela que o público pode esperar um evento “impecável”. “Juliana Taino e Erick Souza fizeram uma leitura belíssima do material, percebendo e dando uma dimensão para as personagens muito além da superfície, e com vozes lindíssimas. A equipe toda escalada pelo FAO foi impecável, a direção de William Pereira, a execução da Amazonas Filarmônica, a cenografia de Giorgia Massetani, construída a partir da estrutura existente do Museu Catavento. Tudo! Tenho só a ser grato e honrado”. 

 

Primeira ópera no FAO 

 

Assim como os compositores Leonardo Martinelli e Eduardo Frigatti, das óperas “Três Minutos de Sol” e “O Corvo”, Piero Schlochauer também estreia a sua primeira ópera no FAO.

“Foi uma experiência bem desafiadora, mas também um aprendizado enorme. Foi tudo escrito e composto em cinco semanas insanas, e houve momentos em que honestamente não achei que eu fosse conseguir entregar a partitura e as partes a tempo. Mas o bom de ter um prazo super estabelecido e com cobrança externa é que, independentemente das inseguranças e bloqueios criativos, eu sentava todo dia pra escrever de manhã até tarde da noite, até que, para minha surpresa, eu não tinha mais nada pra escrever”, comenta Piero.

 

A ópera foi encomendada especialmente para o FAO, experiência que o compositor classifica como “surreal”. Ele conta que conhece o festival há muitos anos, mas nunca imaginou ser convidado para participar. 

 

“É uma honra tremenda participar desse evento, que é um dos mais importantes para ópera no Brasil. Admiro muito a iniciativa de montar um evento completamente on-line, de composições de brasileiros para brasileiros. Acho essencial para a sobrevivência da ópera como arte esse tipo de festival, que traz produções novas, sobre temas atuais e com a democratização e acesso do público. Isso traz um aspecto muito importante a ser levado em consideração no momento de compor, como pensar o tipo de linguagem que vá se traduzir para quem está assistindo e ouvindo pelos alto falantes de um celular, por exemplo”, declara.

 

FAO 2021

 

A 23ª edição do FAO é realizada de 6 a 20 de junho, com óperas e concertos gravados, recitais transmitidos ao vivo, webinars e masterclasses on-line. Adiado por conta da pandemia de Covid-19 em 2020, o FAO será totalmente dedicado a compositores e intérpretes brasileiros.

Seguindo os protocolos de segurança e prevenção contra o novo coronavírus, o FAO tem uma produção inovadora este ano. As orquestras dos Corpos Artísticos gravam, em dias alternados, áudio e vídeo das obras em Manaus, no Teatro Amazonas, e os solistas gravam as vozes em São Paulo, onde também é trabalhada a parte cênica.O material é, então, reunido e editado para dar vida às óperas e aos concertos. Os grupos de músicos também são reduzidos, em formato de câmara, para evitar aglomerações e facilitar o distanciamento social.

De acordo com Luiz Fernando Malheiro, o FAO não exaltará apenas os compositores contemporâneos, mas realizará um panorama de 165 anos de repertório brasileiro.

 

“É importante salientar a filosofia desta edição do festival de priorizar nossos artistas. Muitos sofreram e foram prejudicados por conta da pandemia, e por isso decidimos trabalhar apenas com profissionais brasileiros e também com repertório brasileiro. Teremos obras desde o século 19 até os dias atuais”, assinala o diretor artístico.

 

Raio-X da ópera Moto-contínuo

 

A programação contará ainda com uma série de vídeos dedicada a explicar as profissões artísticas e técnicas da ópera para crianças e adolescentes.

 

 

Óperas (19h Manaus / 20h Brasília)

13 de junho

“O Corvo”

Ópera e libreto de Eduardo Frigatti

Coral Do Amazonas e Amazonas Filarmônica

20 de junho

“moto-contínuo”

Ópera de Piero Schlochauer / libretto de Beatriz Porto, Isabela Pretti e Piero Schlochauer

Amazonas Filarmônica

Concertos (20h Manaus/ 21h Brasília)

11 de junho

“Duas Flores”

de Fernando Riederer

12 de junho

“Vox Populi e Vírus Verbal em Quatro Miniaturas”

de Laiana Oliveira

14 de junho

“Sans Rien Dire e Spaziergang”

de Tatiana Catanzaro

15 de junho

“Dire è Fare”

de Vinicius Giust

18 de junho

“Ária dos olhos”

de Paulina Łuciuk, poema de Alphonsus de Guimarães

19 de junho

“A Máquina Entreaberta”

de Willian Lentz

 

Recitais de canto e piano (20h Manaus / 21h Brasília)

10 de junho

Canções de Chiquinha Gonzaga

Mirian Abad, soprano

Marinete Negrão, mezzo-soprano

Jefferson Nogueira, tenor

Joubert Júnior, barítono

Roberto Paulo, baixo

16 de junho

Canções de Carlos Gomes

Raquel de Queiroz, soprano

Aurean Elessondres, mezzo-soprano

Juremir Vieira, tenor

Luiz Carlos Lopes, baixo-barítono

Emanuel Conde, baixo

17 de junho

Canções Amazonenses

Carol Martins, soprano

Samanta Costa, mezzo-soprano

Wilken Silveira, tenor

Miquéias William, tenor

Josenor Rocha, barítono

Roberto Paulo, baixo

 

Webinars

 

12 de junho, (16h Manaus / 17h Brasília)

“A Profissão do compositor erudito no Brasil: formação, divulgação, interesse, futuro”

 

Masterclasses (16h Manaus / 17h Brasília)

16 de junho

“A Arte do Canto na Ópera Contemporânea”

18 de junho

“Composição de Ópera Hoje”