calendar_today novembro 24, 2020 person Portal Maloca mode_comment 0

 

Um vírus raro que causa febre hemorrágica e pode levar à morte foi transmitido entre humanos na Bolívia, no primeiro caso documentado desse tipo de transmissão.

Em resumo, o surto ocorreu no ano passado, na província de Caranavi, no departamento de La Paz. Dois pacientes com febre hemorrágica Chapare, doença causada pelo vírus Chapare, infectaram três profissionais de saúde (um médico residente, um médico de ambulância e um gastroenterologista). Três dos doentes morreram, entre eles dois médicos.

 

Arenavírus 

 

O Chapare faz parte da família dos arenavírus, a mesma de outros vírus que causam diferentes tipos de febre hemorrágica. Os arenavírus costumam ser transmissão entre seres humanos pelo contato direto com roedores com o vírus, como mordidas ou arranhões; e também pelo contato com saliva, urina ou fezes desses animais.

A confirmação de que houve transmissão de pessoa para pessoa do Chapare na Bolívia deu-se nesta semana durante encontro anual da Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene.

Ademais, a descoberta é fruto de colaboração entre pesquisadores do CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças, agência de pesquisa em saúde pública ligada ao Departamento de Saúde dos Estados Unidos), do Centro Nacional de Doenças Tropicais da Bolívia e da Organização Pan-Americana de Saúde.

 

Transmissão 

 

Acredita-se que a transmissão entre humanos ocorra por meio de fluidos corporais (como sangue, saliva, urina, sêmen e secreções) ou contato com objetos contaminados com fluidos corporais, inclusive durante alguns procedimentos médicos, como intubação.

“É muito provável (que a transmissão seja por meio de fluidos corporais), com base nas evidências que temos nesses casos e também em exemplos na literatura médica sobre outros arenavírus”, diz à BBC News Brasil a virologista Maria Morales-Betoulle, uma das cientistas do CDC que participou da pesquisa.

Mas ela e outros cientistas ressaltam que, diante do pequeno número de casos documentados, são necessárias mais pesquisas para compreender como o vírus se propaga e causa a doença.

 

Diagnóstico

 

Enquanto a atenção mundial continua focada na pandemia de coronavírus, cientistas como Morales-Betoulle trabalham para identificar possíveis novas ameaças.

Além disso, transmissão por fluidos corporais costumam ter contenção menos dificultosa do que a transmissão pelo ar, como o coronavírus.

Mas a descoberta de transmissão do Chapare entre humanos abre a possibilidade de surtos maiores no futuro.

De acordo com o CDC, houve outro registro da doença em 2003, também na Bolívia, na província de Chapare, no departamento de Cochabamba. Naquele caso, o paciente morreu 14 dias após o surgimento dos sintomas.

 

 

Circulação não identificada 

 

No entanto, os cientistas não descartam a possibilidade de que, no intervalo de 16 anos entre o caso inicial e os de 2019, o Chapare tenha circulado sem ter sido identificado, confundido com outras doenças.

“Como os sintomas são semelhantes aos da dengue, há a possibilidade de que tenha sido diagnosticado de maneira errada”, observa Morales-Betoulle.

 

Sintomas 

 

Entre os sintomas relatados nos casos de 2019 estavam febre, dor abdominal, vômito, sangramento das gengivas, erupções cutâneas e dor atrás dos olhos. Morales-Betoulle afirma que o primeiro paciente teve inicialmente o diagnóstico de dengue.

O genro desse paciente, que trabalhava com ele na lavoura, também foi infectado.

Em áreas agrícolas, roedores silvestres infectados podem contaminar cereais armazenados. Há evidência preliminar do vírus em roedores na região do surto, mas ainda não há confirmação de que eles foram os causadores da doença.

 

vírus

 

Sem tratamento

 

Ademais, não há tratamento para a doença, e os pacientes recebem apenas cuidados para aliviar os sintomas, como fluidos intravenosos e remédio para aliviar a dor.

Além disso, o CDC salienta que, devido ao pequeno número de casos, limitam-se as informações sobre o período de incubação (entre a exposição inicial e o desenvolvimento de sintomas) e a progressão da doença.

Os arenavírus costumam ter período de incubação variado, de entre quatro e 21 dias.

Entre outros sintomas relatados nos casos de febre hemorrágica Chapare estão dor de cabeça, dor muscular e nas juntas, diarreia e irritabilidade.

Esses sintomas costumam ocorrer antes do sangramento, que ocorre no estágio mais avançado.

“Sabe-se pouco sobre possíveis complicações de longo prazo ou imunidade após infecção com o vírus”, diz o CDC.

 

Colaboração entre cientistas 

 

Por fim, Morales-Betoulle destaca a importância da colaboração entre cientistas de diferentes países e organizações para a identificação dos casos. Bem como observa que os pesquisadores isolaram o vírus e desenvolveram um teste para diagnosticar o Chapare.

Mas a virologista ressalta que é preciso continuar estudando o vírus para entender sua capacidade de causar surtos.

“Ainda temos muito a investigar”, diz Morales-Betoulle.

 

 

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Veja mais: BBC

 

Fotos: UESLEI MARCELINO/REUTERS e GETTY IMAGES e Omics/Reprodução