Será que você já leu o que segue em algum lugar?
“Antigamente, ali pelos anos 1970/80/90, fazer uma revista semanal de futebol como a Placar era um desafio.
Além da concorrência brutal dos jornais, com seus cadernos de esportes, principalmente às segundas-feiras, ainda havia a intensa programação das emissoras de rádio, na hora do almoço, antes e depois do jantar. E, é claro, das tevês.
Nem eram, no entanto, os jornais, as rádios e as tevês os maiores problemas da revista. Eram os cartolas. Campeonatos com regulamentos ambíguos, decisões absurdas das federações e da CBF constantemente iam parar na Justiça, primeiro na esportiva, depois na comum, e jogos eram adiados, decisões de torneios iam para o tapetão.
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As edições eram fechadas aos domingos à noite ou no começo das madrugadas das segundas-feiras, para chegar às bancas, em São Paulo e no Rio nas terças-feiras, nas demais cidades às quartas e, muitas vezes, já chegavam velhas, superadas por alguma canetada, alguma liminar, qualquer lambança.
Então, a capa que anunciava o grande jogo do fim de semana seguinte, estava vencida, porque o clássico não aconteceria”.
A rara leitora e o raro leitor desconfiam que já leram o texto acima? Pois não desconfiem, tenham certeza.
No dia 27 de junho passado, sob o título “Bolsonaro destrói até o futebol” estava escrito o que você eventualmente releu agora.
Dons mediúnicos, sabedoria do autor, um chute como outro qualquer?
Nada disso! Apenas pedra cantada, exposição do óbvio, como acabamos de ver sobre a lambança em torno do clássico entre Palmeiras e Flamengo, caso típico da miséria moral de nosso futebol, de volta em grande estilo.
O Palmeiras pela covardia de querer enfrentar o rival despedaçado e pela falta de solidariedade com, como dizem demagogicamente os cartolas, o coirmão.
O Flamengo por ser o principal responsável pela volta açodada do futebol em troca da Medida Provisória do governo Midas ao contrário.
A CBF pela cumplicidade irresponsável e incompetência de seu protocolo, basta comparar com o andamento da NBA.
Quiseram fazer um campeonato como se vivêssemos tempos normais e adotaram medidas tão simplórias que a Covid-19 passou a golear.
Tudo facilmente previsível mesmo para que tem um olho só.
Menos mal que ainda não deram o passo final da irresponsabilidade, a volta do torcedor aos estádios.
Não duvide de que eles vão tentar seguir adiante com o Covidão-20, mesmo que aos trancos e barrancos, porque jamais darão o braço a torcer, reconhecerão o tamanho do erro cometido, até mesmo se algum jogador morrer.
Porque, afinal, todos um dia vão morrer, não é mesmo?
Se acontecer, dirão que o falecido tinha alguma comorbidade, o menisco estropiado, por exemplo.
A que ponto chegamos!
O jogo? Ora, o jogo. O que esperar de um jogo em tais circunstâncias? Que o Palmeiras massacraria o rival com a defesa inteira juvenil.
Mas, ao contrário, viu-se o Flamengo vivo e o Palmeiras incapaz de jogar futebol durante todo o primeiro tempo, sem gols, embora os cariocas, 19 jogadores infectados pelo vírus do mesmo número, merecessem pelo menos um.
Gols só no segundo tempo, os dois em um minuto, primeiro o de Patrick de Paula, com desvio e, incontinenti, o de Pedro, com passe de Arrascaeta, verdadeiro maestro em campo.
Glória rubro-negra, vergonha alviverde.
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Foto: Divulgação Flamengo