Invasores de terra indígena cercam base e ameaçam fiscais do Ibama
Um grupo de invasores da Terra Indígena Apyterewa, no sul do Pará, cercou uma base de fiscalização utilizada por equipes do Ibama, Funai e Força Nacional. Vídeos mostram um grupo de homens hostilizando a equipe de fiscalização e incendiando uma ponte de madeira que dá acesso à terra indígena.
Entenda o caso
Em resumo, no início da tarde desta quinta-feira (19), o juiz federal de Redenção (PA) Francisco Antonio de Moura Junior acolheu pedido do MPF (Ministério Público Federal) e ordenou a retirada do bloqueio no entorno da base e uma multa de R$ 20 mil por hora em caso de descumprimento. Além disso, ele requisitou apoio da Polícia Militar e da Polícia Federal do Pará.
O juiz escreveu que “a existência da turbação resta devidamente comprovada” e os indícios mostram que a base “é objeto de turbação ou ameaça de turbação, […] com iminente possibilidade de ser esbulhada”.
Barricada
Uma barricada com pneus e madeira foi feita na frente da base e os invasores ameaçam fazer um incêndio para impedir que os fiscais continuem seu trabalho. Aliás, a coluna apurou e existiu a solicitação a Brasília um reforço urgente da Força Nacional. O clima é de tensão e os servidores públicos temem pela sua segurança física.
Além disso, o UOL apurou que os servidores estão impedidos de entrar e sair da base, e não podem mais receber mantimentos e combustíveis, um quadro que evoluiu “de obstrução da fiscalização para cárcere privado”, segundo servidores que pediram para não ter os nomes divulgados.
Repressão de Desmatamentos
A equipe está na região para reprimir desmatamentos dentro da terra indígena. Na vizinha Terra Indígena Trincheira-Bacajá, os fiscais conseguiram conter os focos de desmate. Na terça-feira (17), contudo, a equipe passou a receber ameaças de invasão da base e incêndios dos carros da fiscalização.
“Emboscada”
Ademais, ao tentar passar por uma ponte, os fiscais sofreram “uma emboscada”, com tiros para o alto, possivelmente de espingardas, e os invasores incendiaram a ponte e serraram um dos pilares. A equipe teve que retornar à base.
O cerco ocorre na frente da base São Francisco, que integra o plano de proteção territorial da empresa Norte Energia como parte das condicionantes para a obra da hidrelétrica de Belo Monte, e atualmente dada em cessão ao Ibama.
Por fim, a ocupação ilegal reúne cerca de 1.500 pessoas na região
Ameaças
“Vocês tá trabalhando pro Lula ainda, é? O Lula já foi, rapaz”, diz um morador à equipe do Ibama, conforme registrado em vídeo. Um policial armado se aproxima e pede para as pessoas se afastarem, mas não é atendido. “Não vamos recuar, não. Eu sou trabalhador”, diz um dos manifestantes. Além disso, um outro vídeo mostra invasores dizendo que vão erguer um barraco na frente da base.
Terra Indígena Apyterewa
A Terra Indígena Apyterewa, no município de São Félix do Xingu (PA), fica a cerca de 1 mil km de Belém (PA). Território tradicional dos índios parakanãs desde 1982, sofre, hoje, com a ocupação ilegal de mais de 1.500 não indígenas, segundo estimativas.
Usina Hidrelétrica de Belo Monte
A retirada dos invasores era uma condicionante judicial para que a União obtivesse a licença ambiental de construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.
Grupo de invasores apela a Damares e ao presidente Bolsonaro
A partir de janeiro do ano passado, segundo os indígenas, a ocupação ilegal recrudesceu porque os invasores viram no governo de Jair Bolsonaro uma oportunidade de tentar rever a demarcação do território, de 770 mil hectares.
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Foto: Felipe Werneck/Ibama.