Aos 43 anos, craque reconhecido mundialmente no futsal, Falcão deixa oficialmente a aposentadoria neste sábado. Voltará a sentir o frio na barriga pré-jogo ao vestir as cores do Grêmio no futebol 7. “Renasce”, como o próprio diz, para viver o abraço de uma torcida de massa do futebol brasileiro.
Missão
A missão é muito clara e tem duas rotas convergentes: ser campeão mundial com o clube gaúcho e deixar um legado para a modalidade. Em entrevista ao ge na tarde desta sexta-feira, Falcão destacou a oportunidade que terá de levar o Tricolor a lugares onde o futebol não chega.
O tamanho de Falcão é inegável. E é justamente por isso que ele vai se dispor a competir novamente. Neste sábado, encara o Estudiantes-RS em jogo válido pelo Grupo A da Liga Fut7, etapa Sul, em seu primeiro compromisso.
Pediu para jogar assim que soube da partida, no dia seguinte a sua chegada em Porto Alegre. Inicialmente, seria reforço só para a Liga das Américas, que será disputada em dezembro.
Renascimento
Eu não vivenciei essa coisa do torcedor fanático. Com 43 anos, estou vivendo isso. Estou renascendo, e a minha meta é ser campeão pelo Grêmio. — Falcão
Confira o bate-papo
Você volta de uma aposentadoria. Está enferrujado ou dá pra esperar tudo que sempre vimos do Falcão?
Falcão – Primeiro, um prazer muito grande estar vestindo a camisa do Grêmio. Pesou muito ter essa estrutura que vi aqui por trás, ter o calendário do fut7 para o ano que vem. Eu não viria para jogar, ir embora e morrer na praia. Eu não vou precisar ficar aqui, estar treinando no dia a dia, mas claro que vou me preparar para os jogos. Minha finalidade aqui é que o futebol 7 vire uma realidade, que outros clubes olhem o Grêmio como exemplo, que possa criar novos empregos, que outros clubes possam fazer com que atletas vivam do futebol 7.
Você já teve outras experiências no futebol 7. O projeto do Grêmio é o mais sólido?
Eu passei pelo Madureira, foi um sucesso, uma repercussão fantástica, porém não teve sequência. Passei pelo Vasco, joguei um jogo, tive uma lesão muito séria e acabou que não deu sequência também. Quando aconteceu no Grêmio, perguntei qual era o calendário do ano que vem. Passar por aqui para acender uma fogueira e jogar água não adiantaria. Quando vi que a competição de dezembro dá chancela para o Mundial do ano que vem, que tem uma programação de seleção brasileira, tem uma programação de torneios, me animou muito mais.
A minha questão não é financeira, não é voltar a jogar, e sim fazer um esporte virar realidade. Olhar daqui 15 anos e falar: ‘pô, passei por lá e olha só o que virou, olha quantas pessoas vivem do futebol 7’, assim como foi no futsal. — Falcão
A ideia então é deixar um legado para o futebol 7.
Não tenha dúvida, o meu principal motivo de ter aceitado esse desafio é deixar um legado. Para que possa profissionalizar. Hoje o futebol 7 do Grêmio tem um preparador físico, tem um treinador, tem um auxiliar, tem um massagista, tem o fisioterapeuta, tem os jogadores que já moram aqui na cidade para vivenciar isso. E só o Grêmio tem isso. Então, espero cada equipe colocando direta ou indiretamente 50, 60 empregos.
Futebol 7 é muito diferente de futsal, arte que você tão bem domina?
Eu acho mais próximo do futsal do que do futebol. Você pega bastante na bola, o pivô é muito importante, o jogo de dois é muito importante. O jogo do campo já é mais cadenciado, passa de um lateral para o zagueiro, da zaga para o lateral, do lateral para o volante. Claro que vou ter dificuldade, muito mais por estar dois anos parado. A forma física de quem vai competir é diferente de quem vai fazer eventos. Claro que, para dezembro, eu vou me preparar. Se a gente classificar para o Mundial, vou me preparar ainda mais. Então, internamente, me incentiva muito para continuar treinando, mantendo a forma para competir. Estou aqui para deixar um legado, mas tudo que competir, vou competir para ganhar.
Neste sábado tem estreia. O que podemos esperar do Falcão? Já aquele estilo ousado?
A tendência era eu jogar em dezembro. Mas quando soube que minha apresentação era na sexta e tinha jogo sábado, falei: “quero jogar”! Aí tem jogo domingo também. Falei: “espera aí, dois não”, vou jogar um só (risos)! Provei durante a minha carreira que, a bola subiu, eu vou dar uma bicicleta, porque é uma característica minha. O cara vai abrir a perna, eu vou tentar uma caneta. Eu acredito que vai ser da mesma maneira, e o que eu quero é fazer o torcedor do Grêmio muito feliz.
Você é uma figura muito forte e deve ter conhecidos no clube. Acha que pode servir de elo e de repente aproximar os mundos do futebol e do futebol 7 do Grêmio?
Acho que isso já começou certo, quando o Renato mandou mensagem, quando o clube abraçou. Conheço alguns jogadores e tenho certeza que esse elo vai acabar criando amizades muito boas. Eles já abraçaram, estão querendo ver os jogos e nós também, claro. Como moro em São Paulo, quando o Grêmio for lá, vou visitá-los. O futebol 7 do Grêmio pode estar em lugares que o futebol não vai. Pode ser um braço de vender a marca, de trazer torcedores que nunca viram futebol de campo. Quantas cidades têm no interior do Rio Grande do Sul que talvez o futebol nunca irá, mas o fut7 pode ir. No Paraná, em Santa Catarina.
O Renato representa muito para o Grêmio. Já tem resenha marcada?
Cara, o Renato é um ícone. Escutei muito que poucos clubes têm um ídolo tão representativo como o Renato é para o Grêmio. Tive algumas vezes com o Renato no Maracanã em jogos do Zico, conversei com ele. Quero virar amigo do Renato, porque o futebol precisa de mais Renatos. Ele é um cara que sabe vender o esporte, sabe ser um personagem e é vitorioso.
Em que estágio entra o Grêmio na Liga das Américas em relação a outros clubes brasileiros e estrangeiros?
A meta é ser campeão mundial de clubes, então, tem que passar pela Liga das Américas. Por isso quero me preparar ao máximo para chegar no mesmo nível de todos. E tenho certeza que o Grêmio briga, se não me engano são três vagas. A primeira meta é ir para o Mundial, e a segunda é ser campeão. Já estou imaginando a torcida se reunindo para nos ver jogar. Eu joguei em 2011 no Santos, joguei no Corinthians no início da minha carreira, joguei no Atlético-MG há 20 anos, joguei no São Paulo. Eu não vivenciei essa coisa do torcedor fanático, a torcida estar explodindo. Com 43 anos, estou vivendo isso. Estou renascendo.
Você citou agora a relação com a torcida. Como tem sido isso nos últimos dias?
Há 10 dias, começou o burburinho na minha rede social. Uns afirmavam, outros tinham dúvida. Na quarta, quando teve o anúncio oficial, explodiu. Estou muito feliz mesmo, foi uma aceitação. Eu consigo estar em um clube, mas ter o respeito de todos os outros. Recebo muitas mensagens do Inter: “sou colorado, mas me dá uma camisa para deixar no fundo da gaveta”. Então isso é legal, de ter a rivalidade, mas não passar da falta de respeito.
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Fonte: ge
Foto: Luciano Maciel/Grêmio futebol 7