Qualquer equipe do mundo com o privilégio de poder ter Neymar joga melhor com ele do que sem ele. Óbvio. Esse é um dos fatores que explicam certo declínio técnico da seleção brasileira depois da Copa do Mundo. A frequência do principal jogador em campo caiu 53% após a eliminação para a Bélgica, nas quartas de final, em 2018.
Desde que fraturou o quinto metatarso do pé direito, em fevereiro de 2018, Neymar jamais havia se apresentado tão apto técnica, física e mentalmente a apresentar sua melhor performance como agora, para os jogos contra Bolívia e Peru, que abrirão as eliminatórias para o Mundial de 2022, no Catar.
No aquecimento para o treino de quarta-feira, entretanto, Neymar sentiu dores nas costas e, mais uma vez, sua escalação se cercou de interrogações médicas.
Sob comando de Tite, o atacante participou de 72,4% dos minutos de jogo, desde o 3 a 0 contra o Equador, em Quito, no início de setembro de 2016, até a derradeira partida da Copa da Rússia.
Da estreia de Tite à derrota para a Bélgica:
Neymar participou de 20 dos 26 jogos da Seleção, e esteve em campo por 1.795 minutos, equivalente a 72,4% do tempo total de jogo da equipe no período.
Do início deste novo ciclo, a vitória sobre os Estados Unidos, em setembro de 2018, até os 3 a 0 em cima da Coreia do Sul, em novembro do ano passado, esse índice despencou. Neymar esteve em campo somente em 34,2% do tempo de bola rolando.
Do primeiro amistoso pós-Copa ao último antes da pandemia:
Neymar participou de 11 dos 22 jogos da Seleção, e esteve em campo por 727 minutos, equivalente a 34,2% do tempo total de jogo da equipe no período.
Neymar disputou a Copa sabidamente aquém da condição ideal, devido ao tempo de recuperação acelerado para que pudesse estar presente no maior dos torneios. Era o início de um período espinhoso. Acúmulo de lesões – felizmente sem maior gravidade –; e momentos de instabilidade pessoal, que acabaram se refletindo em campo.
O craque teve que ser substituído, machucado, aos 8, 20 e 12 minutos do primeiro tempo, respectivamente, nos amistosos contra Camarões, Catar e Nigéria, entre fim de 2018 e 19.
Tite não o tinha por inteiro há mais de dois anos. Talvez não o tenha novamente. E numa seleção que se reúne esporadicamente, não se pode criar uma rotina completamente dissociada do protagonista. É como se seu lugar tivesse de ser preservado dentro de uma maneira de atuar que precisa se consolidar com poucos treinamentos, ainda que ele não esteja no grupo.
Planos de Tite para Neymar
Para essa retomada do futebol, Tite tem planos ambiciosos para Neymar. Ampliar sua área de influência no campo, partindo do centro para o lado. Mais liberdade nas ações defensivas da Seleção, associando-se a mais jogadores. E sendo o principal nome de um curto espaço de grama no qual o treinador quer plantar criatividade; entre as linhas de marcadores bolivianos e peruanos.
Se Neymar puder atuar, estará com Philippe Coutinho, Everton e Roberto Firmino no setor ofensivo. Estará flutuando às costas dos meio-campistas da Bolívia e tentando se aproveitar de espaços de infiltração gerados pela presença do lateral-esquerdo Renan Lodi. Lodi como quinto homem desta formação ofensiva.
Contra marcações apertadas, compactas, o espaço se reduz e a velocidade do giro corporal, para dominar a bola na direção certa e ganhar preciosos milésimos de segundo, é fundamental. Um jogador com dores na região lombar, por mais habilidoso que seja, possivelmente não consiga entregar tudo o que se espera com tais limitações.
O futebol merece ver a seleção brasileira com seu maior craque inteiro. Não acontece faz tempo.
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Fonte: GE