Cottagecore: perfil reúne fotos de mulheres negras que curtem nova tendência
O estilo cottagecore, veio se popularizando nas redes sócias, como o TikTok e o Instagram, durante o período da quarentena. A moda remete a um estilo de vida do campo, com vestidos românticos paisagens naturais e diversas referências bucólicas.
Porém, nem todos se sentem representados ao pesquisarem pelas fotos dessa hashtag, com imagens majoritariamente associadas a garotas brancas. Em busca de maior representatividade, Noemie Sérieux criou o perfil Cottagecore Black Girls, voltado apenas para fotos de mulheres negras que compartilham dessa tendência.
Cottagecore Black Girls
O perfil é repleto de garotas negras em piqueniques, com flores ou vegetação ao fundo, vestidos retrô, e outros detalhes que caracterizam a estética. Além disso no que se refere à moda, é possível notar tendências como mangas bufantes, vestidos em cores claras, babados, listras e estampas com referências campestres.
Em um artigo publicado no site da revista Glamour norte-americana traz falas de cinco mulheres negras para aborda sobre o tema. A fundadora da conta Cottagecore Black Girls, que já tem mais de 4,5 mil seguidores, contou que parte da razão que a levou a criar o perfil foi o cansaço de pesquisar pela tendência, que ela adora, e só encontrar fotos de pessoas brancas cis nas redes sociais.
Segundo Noemie Sérieux, a conta recebe muitas mensagens de mulheres contando como a página, era o que estavam procurando e muitas consideram CCBG escapismo ou alívio da ansiedade, através de ver pessoas que se parecem com elas vivendo a vida que desejam.
Para ela, esse estilo de vida remete a valores como a simplicidade, sustentabilidade, comunidade e paz. Isso é algo que todos têm buscado em meio às dificuldades trazidas pela pandemia do novo coronavírus.
Contexto histórico
Apesar do estilo cottagecore estar relacionado à vida simples no campo, como alguns viviam séculos atrás, também existe um contexto histórico triste por trás desse resgate proposto pela tendência, como aponta o artigo da Glamour. Em períodos do passado, indígenas eram retirados de suas terras e pessoas negras não tinham direito a propriedades. Isso explica por que parte da visão dessa tendência remete a um olhar majoritariamente branco.
“As tendências da moda que romantizam momentos históricos são frequentemente problemáticas porque, por natureza, excluem aqueles que foram privados de direitos durante o período de inspiração. Há uma razão pela qual você não costuma ver pessoas de cor em filmes de viagem no tempo”, acrescenta a autora, Shanna Shipin.
Shelcy Joseph, do projeto NYCxClothes, acredita que a tendência deve representar as mulheres negras. “Como o termo está enraizado em um padrão de vida eurocêntrico, que está ligado ao colonialismo, ele é inerentemente branco. Mas isso não significa que as mulheres negras não tenham contribuições a fazer. Na verdade, o que estamos vendo hoje é uma reivindicação do cottagecore em nossa comunidade”, argumentou.
Já na visão de Amy Lefévre, lembrar das condições do passado é importante assim como reescrever seu papel na história. “Para mim, essa questão gira em torno da moda, da expressão artística e de como esses conceitos são interpretados de uma lente política. Acho que grande parte da moda é cíclica e por sua natureza lembra um passado de uma forma ou de outra que nem sempre foi tão róseo quanto pode ser representado”, opinou.
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