Terra – nosso corpo, nosso espírito: a urgência da preservação ambiental
O espetáculo ‘Ópera Amazônia: A Festa do Povo Caboclo’ foi o palco da anunciação do tema do Boi Caprichoso para o Festival Folclórico de 2021, optou-se pela manutenção do tema “Terra: Nosso Corpo, Nosso Espírito”. O bumbá reafirmou o compromisso pela luta indígena, étnica, social, racial, ambiental e cabocla, causas que ultrapassariam os limites geográficos e se entrelaçariam em um único território, o planeta Terra.
O tema propõe o entendimento da Terra como território comum da humanidade. O Caprichoso clama pelo cessar das violações contra a mãe natureza, enaltece os habitantes da Amazônia e o seu dever de preservação e define-se como o Boi da luta popular.
Em um grande “movimento de cura” da Terra, o Touro Negro manifesta-se contra os ataques ao folclore, a cultura e as artes, bem como, a tentativa de tolher os povos indígenas e propõe apoio a causa de todos os oprimidos e defensores da “Terra: Nosso Corpo, Nosso Espírito”.
Planeta Terra
O século da globalização, da tecnologia, e das descobertas espaciais, o século XX, revelou o Planeta Terra como uma esfera frágil e pequena, um “organismo”, que como tal, para a sua sobrevivência depende do equilíbrio de todas as suas partes e componentes.
Em um loop infinito de causa e efeito, o famigerado “Bumerangue Ecológico”, mostra-se cirúrgico ao definir os dias atuais da “Terra”. Esse “organismo vivo” padece com o crescimento acelerado da população mundial e consequente demanda exorbitante de recursos naturais. Nesse cenário caótico, evidencia-se os problemas da poluição e contaminação do meio ambiente.
O Planeta dá indícios da sua devastação e clama por socorro, o aquecimento global, a chuva ácida e o buraco na camada de ozônio, são sentidos severamente por cada um dos terráqueos.
O Boi Caprichoso destaca a urgência da altivez do cidadão como sujeito ativo da mudança além de peça fundamental. O novo cenário renega o cidadão espectador. Na verdade, em um mundo onde política ambiental não é prioridade, além de urgente, o cidadão “cidadão” é a única alternativa para a sobrevivência do Planeta Terra.
O Bumbá Azul e Branco promete uma discussão acerca da necessidade de entender a grande teia que nos envolve e quão dependentes somos do Planeta, que nos permite habitá-lo. Historicamente a humanidade se colocou em um patamar de centralidade, de solistas, no entanto, no últimos anos, o Planeta se mostra o verdadeiro protagonista desse espetáculo, um protagonista solidário que permite um recomeço, uma reconexão.
Arte, folclore e cultura popular como ato político
O Caprichoso em 2021 promete uma vertente política bem acentuada, o Bumbá eleva a ato político a arte, o folclore e a cultura popular. Em verdade, constata que a aproximação com a crítica social busca a politização da esfera artística, folclórica e cultural. O Festival de Parintins como palco de uma das mais expressivas manifestações culturais do país é por si só um ato político que se acentua em tempos de desmantelamentos e desprestígio da arte e cultura.
É importante entendermos a cultura popular como viabilizadora de discursos de teor político que, se não buscam a transformação social, ao menos a discutem. É isso que o Caprichoso pontuará em 2021, que a arte e o folclore dão visibilidade a discursos de contestação. Nesse processo o bumbá traz além de politização da arte, a discussão sobre a identidade e resistência indígena.
Identidade e resistência indígena
Historicamente a colonização significou a expulsão dos indígenas de suas terras e o desmantelamento das etnias então existentes. No entanto, embora a “conquista” do nativo tenha sido efetivada, inúmeros foram os conflitos e diversos os meios de resistência desenvolvidos pelos povos originários. Assim, a resistência é inerente ao povo indígena, povo guerreiro que resistiu e resiste ao extermínio.
O Caprichoso ao tratar sobre a identidade dos povos originários, tende a entende-la a partir da noção de etnicidade, situando os povos tradicionais no espaço e no tempo histórico, trata-se, em verdade, da reescrita de uma narrativa a partir de uma perspectiva completamente nova e nunca observada: a indígena.
Por fim, o bumbá propõe uma releitura, onde considerará os contextos históricos que envolvem os povos da floresta e acentuará além da problemática identitária dos povos indígenas a luta pelo direito à terra e a capacidade de organização e resistência desses brasileiros.
Povos da Floresta guardiões da Amazônia
Os povos originários e as comunidades tradicionais protegem diariamente o floresta, na verdade, são seus verdadeiros Guardiões. A política da destruição do meio ambiente é perigosa e criminosa, mesmo assim, os povos da floresta arriscam suas vidas para denunciar e combater tais atrocidades contra o Planeta e a humanidade.
Em termos práticos, dados de satélite explicitam que as terras indígenas funcionam como uma verdadeira barreira ao avanço do desmatamento e de suas trágicas consequências. As terras indígenas (TIs) e as áreas naturais protegidas (ANPs) cobrem, juntas, mais da metade (52%) da Amazônia e armazenam 58% do carbono na região, segundo artigo científico publicado pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) no início de 2020.
Desconsiderando-se o papel vital desses povos para o equilíbrio ambiental e sobrevivência do Planeta, lideranças latifundiárias e exploratórias, não medem esforços e tentam incessantemente e agressivamente o subjugo e usurpação de direitos desses guardiões.
O Caprichoso propõe uma união aos Povos da Floresta na árdua batalha de preservação do Planeta Terra, reconhecendo-os como os guerreiros amazônicos e celebrando no Bumbódromo em 2021 a identidade e resistência dos povos originários e a sua luta pela harmonia ambiental e humana.
Veja também: Portal Maloca – A luta dos povos indígenas na voz de Thaline Karajá