calendar_today maio 4, 2021 person Portal Maloca mode_comment 0

Nos anos 70, o rock no Amazonas teve desbravadores como a banda Manhã de Abril, dentre outras que não lembro e que, infelizmente, não têm gravações. 

Nos anos 80 foi a vez da porradaria de bandas influenciadas pelo crescente thrash metal de Slayer, Metallica e, principalmente, Sepultura. Foi a década que os headbangers manauaras assistiram shows insanos de bandas como Insanus, Cadáver, Jack Daniels Inc., dentre outras.

Quando chegaram os anos 90, o bicho pegou. Com a forcinha do projeto da fundação Villa Lobos e lançamento das coletâneas Além da Fronteira, volumes 1 e 2, o rock do Amazonas floresceu de uma forma nunca vista antes.

A rapaziada enlouquecia nos shows de bandas como Platinados, Espantalhos, Templários, Zona Tribal, Charlie Perfume, dentre dezenas de outras não menos importantes.

Nota: para saber mais desse período inesquecível, sugiro o documentário O Rock Que o Brasil Não Ouviu e o livro Rock Baré, ambos de autoria de Bosco Leão, líder de outra banda obrigatória dos anos 90, chamada Chá de Flores.

Aos poucos, a música autoral foi perdendo espaço e os covers ganharam força. Muitos músicos, com potencial e talentos extraordinários, passaram a se apresentar em casas noturnas, tocando um repertório que era composto de clássicos de Bon Jovi, Cramberries, Guns N´ Roses, Offspring e afins. Não fugia muito disso.

Mudava a banda, mas o repertório era quase o mesmo.

Bom para os donos dos locais, que abrigava um público pouco exigente, que se divertia cantando (errado) as músicas de seus ídolos gringos enquanto abriam a carteira para consumir o que o local oferecia.

Felizmente, de uns tempos pra cá, a cena autoral vem ganhando força novamente e vários locais começaram abrir espaço para as bandas e artistas que não querem (ou cansaram de) ser papagaio de gringo.

Nomes como Levianos, Conduta Zero 92, Luneta Mágica, Capim na Palheta, Escândalo Fônico e Zona Tribal, só pra citar alguns, entraram em cena dando seu recado e carregam a bandeira do rock autoral com muita competência.

Soul do Norte

Lançamentos na Cena do Rock

Nas últimas semanas, dois lançamentos me deixaram bastante entusiasmado e orgulhoso com a qualidade impressionante tanto em letras quanto nas performances e arranjos.

O primeiro foi o (até me faltam adjetivos) espetacular álbum Soul do Norte, da Pacato Plutão. 

Quando ouvi pela primeira vez, fiquei meio em êxtase com o poder das faixas. Quase tive que ir ao hospital com deslocamento no maxilar.

A banda formada pelo baixista Thomaz Campos, o DJ Manoel Portuga, o baterista Anastácio Junior,o guitarrista e arranjador Leonardo Lima e o vocal demolidor de Cynara Lima, que em minha humilde opinião, é a melhor vocalista de rock no Brasil, ao lado de Emmily Barreto, da potuguar Far From Alaska.

 

 

A faixa título é uma espécie de hino à força da mulher nortista, com uma inspirada letra que diz: sou mulher, sou forte, não se engane, sou norte///sou amazonas, sou guerreira, de outras zonas da história.

Depois de ouvira o álbum trocentas vezes, me sinto quase impossibilitado de destacar alguma faixa, mas com um esforço tremendo, posso citar “Eu em Você”, que me lembrou bandas alternativas dos anos 90, na linha do Placebo, a baladona “Som e Fúria”, a linda “Sol Que Me Rodeia” e a contagiante “Meus Aliados”.

Soul do Norte é uma obra prima do gênero, que pode ser ouvido na íntegra na página da banda no You Tube da banda.

Emergir

Outra bela surpresa vem com a banda Trialis, criada em 2018 e formada atualmente por Julhia Alcantara (vocais e letras), Rafael Dantas (guitarra), André Araújo (baixo) e Rony Costa (bateria) e que tem uma pegada que mistura rock, MPB, Soul, Samba e Hip Hop.

Lançamentos na cena do rock

 

Em 2019, a banda lançou três singles excelentes – “Prelúdio da Ânsia”, “Corpo Mar” e “Alma Condenada”. Em 2020, por conta de toda essa doideira de pandemia, os integrantes deram uma pausa para compor novas músicas.

 

O resultado foi o EP  Emergir, lançado em todas as plataformas no dia 25 de abril, com sete faixas matadoras que mostram bem as influencias sonoras que a banda adota em seu som.

 

 

Destaco a pesada “Eu Me Disfarço”, a delicada “Hoje Eu Te Vi” a psicodélica “Yamim”, a viajante “Monólogo” e o dueto com a mestra Kely Guimarães na faixa “Da Janela”.

Nota: vale muito a pena conferir o trabalho de Kely Guimarães, que tem no currículo o belo álbum Crescente, além de vários singles lançados desde o ano passado, com destaque para “Não Abuse Não!”, “It´s Over, Baby” e “Epifania”.

 

Emergir tem outras participações especiais de peso.

 

A faixa “Mal Cabia Eu” conta com o percussionista Eliberto Barroncas, da lendária Raízes Caboclas. Já em “Tanto Querer” tem o belo violoncelo Timóteo Esteves, que brilha na Orquestra Sinfônica do Amazonas. 

 

O EP foi inspirado no existencialismo, na filosofia, no amor e no vazio existencial. Segundo a banda, o título Emergir veio como uma espécie de grito de libertação individual e artístico, com a conotação literal de trazer ou vir à tona, tornar-se claro ou compreensível, aparecer, expressar-se, manifestar-se. 

Ouvir essa magnífica obra é fazer uma deliciosa viagem por diferentes sonoridades, com a certeza de que o rock do Amazonas está muito bem representado – também – por essa rapaziada mais nova.

 

Espero, de todo coração, que quando a poeira baixar e os shows voltarem a acontecer na cidade, bandas como Trialis, Pacato Plutão, Capim na Palheta, Conduta Zero 92 e tantas outras, tenham o seu devido espaço nas casas noturnas. 

Ouvir bandas tocando covers é legal, divertido. Mas ouvir artistas que estão no palco mandando suas próprias mensagens, não tem comparação.

Let´s Rock. 

Fotos: Jean-Paul Pelissier e Divulgação


Coluna Sonzeira da Boa

Quem escreve? Marco Antonio Ribeiro

Radialista, pesquisador, escritor e colecionador.

Beatlemaniaco e headbanger que também ama blues, jazz e soul.

Autor do livro As lições que aprendemos com os Beatles

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