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Por Dodó Carvalho
Diretor Executivo da SC Transportes – Diretor Presidente na CNN

Estamos vivendo tempos importantes, em que precisamos trazer novas ideias para resolver tanto problemas frequentes quanto novas questões que estão atingindo o transporte hidroviário na Bacia Amazônica. Sem inovações, continuaremos à mercê das forças da natureza.

As mudanças climáticas estão afetando o regime de chuvas e dificultando o transporte de produtos em toda a região. Vimos como o segundo semestre de 2023 foi dramático por causa da seca – e, ao que tudo indica, teremos um cenário ainda mais difícil nos próximos meses. Como se isso não bastasse, a capacidade de reação do poder público tem deixado a desejar. A população e os empresários da região precisam de mais ação.

Nesse sentido, foi positiva a aprovação, em junho, do modelo de concessão da Hidrovia do Rio Madeira pela Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários).

Ainda que o projeto dependa da análise do Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) e de ser transformado em lei, estamos avançando.

Poderia ser mais rápido? Poderia e deveria, mas como essa é a primeira concessão de uma hidrovia a ser discutida no Brasil, naturalmente é algo que anda mais devagar.

A hidrovia do Rio Madeira é crucial para que a produção de grãos de Mato Grosso e Rondônia alcance o mercado internacional.

É também uma via essencial para o transporte de passageiros em toda a região, funcionando como a principal artéria conectando Manaus a Porto Velho.

Com o aumento do tráfego de embarcações devido ao avanço da agricultura no Centro-Oeste, a concessão é fundamental para que toda a economia da região seja competitiva, gerando empregos e crescimento.

Para que se tenha uma ideia da importância da concessão da hidrovia do Rio Madeira, no ano passado o transporte de cargas na região movimentou mais de 20 milhões de toneladas.

O investimento privado vai aumentar a eficiência logística e colocar o Brasil em pé de igualdade com referências mundiais, como a hidrovia do Rio Mississippi, nos EUA.

A concessão da hidrovia do Rio Madeira é um passo importante para que toda a região consiga alcançar um equilíbrio entre a preservação da natureza, a exploração consciente dos recursos naturais, a segurança da população e a viabilidade econômica de comunidades ribeirinhas.

O transporte de passageiros tem evoluído muito nos últimos anos, com o uso de ferry boats e a atualização das frotas. Com um bom modelo de concessão, criam-se as bases para que uma evolução ainda maior aconteça.

Essa modernização também impacta o transporte de cargas.

É a Amazônia, por exemplo, que conta com a frota mais nova de balsas-tanque do mundo, substituindo embarcações construídas com base nos modelos trazidos pelos ingleses durante o Ciclo da Borracha. Trata-se de uma necessária e bem-vinda atualização tecnológica que melhora as condições para o transporte de granéis líquidos e sólidos.

Até agora, esses investimentos, que também alcançam mão de obra, rastreabilidade das cargas, fontes de energia renovável e vários outros fatores, têm sido feitos a partir do esforço exclusivo dos empresários. Se os bancos e demais agentes financeiros compreendessem a importância de financiar o transporte hidroviário na Amazônia, teríamos muito mais condições de crescer e gerar um impacto socioeconômico positivo.

Hoje, um barco de passageiros custa entre R$ 11 milhões e R$ 15 milhões.

Conseguir financiamento é uma via crucis de 6 a 8 meses, fazendo com que as inovações na renovação da frota tenham que vir basicamente da capacidade de investimento dos empresários.

Para o desenvolvimento estratégico da Amazônia, é preciso que sejam criadas e fomentadas políticas públicas que valorizem quem visa o crescimento da região.

Essa é uma dívida social da Amazônia, uma região com cerca de 22 mil km de vias navegáveis e com muitas áreas sem acesso a rodovias. O transporte hidroviário é o que conecta populações, transporta bens, movimenta a economia e gera impostos que podem ser revertidos em benefícios para a própria região.

Uma política pública bem estruturada poderia impulsionar o transporte de passageiros na Amazônia. Para o transporte de cargas, já existem algumas linhas de acesso a crédito, os operadores estão mais estruturados e o Fundo da Marinha Mercante oferece auxílio ao subsidiar o transporte de combustíveis na Amazônia.

Já as operações do agronegócio têm uma estrutura mais ampla de oferta de crédito. Nesses casos, é trabalhar para ampliar e fortalecer o que já existe.

No transporte de passageiros, porém, essa missão depende hoje do esforço dos operadores para modernizar suas frotas, trazendo soluções mais eficientes, com baixo impacto ambiental e mais eficiência na movimentação de pessoas.

Esse é um desafio imenso, que precisa ser considerado como uma questão estratégica para a real integração da Amazônia não apenas com o Brasil, mas com o mundo inteiro.

 

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