calendar_today junho 4, 2021 person Rebeca Beatriz mode_comment 0

Bailarina ‘dança’ em pontes de madeira sobre o rio. A cheia histórica de Parintins, município distante 369 quilômetros de Manaus, muda, aos poucos, a rotina dos ribeirinhos.

Mas o contraste das águas e do cotidiano parintinense também é inspiração para aqueles que têm a alma artística, dando um toque diferenciado ao cenário.

Este é o exemplo da bailarina Aglynes Máina, filha do professor de dança clássica Gledson Oliveira. Pai e filha protagonizam um ensaio fotográfico em meio a pontes de madeira construídas sobre as águas do rio. Por trás das câmeras, ele capta cada movimento da artista, que se equilibra, graciosamente, na ponta dos pés.

O nível do Rio Amazonas já alcança 9,45 metros de elevação. A marca está 10 centímetros maior que a cheia de 2009, registrada no mesmo dia (9,35m).

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A bailarina se equilibra com graça e leveza em cima de pontes de madeira construídas sobre o rio, para mostrar a ligação entre a arte e o dia a dia do ribeirinho. As fotos foram feitas com a câmera de um celular, com a ideia de mostrar as diversas realidades durante a maior enchente já vivenciada no munucípio.

O pai fotógrafo estuda Artes Visuais e teve a ideia de fazer as imagens para uma disciplina da faculdade. Segundo ele, o desafio era escolher um gênero de fotografia e reproduzir um ensaio. Mas Gledson foi além e resolveu fazer o que chamou de ‘intervenção artística’, mostrando o cotidiano ribeirinho de forma poética.

“Eu tive a ideia de fazer algo para chamar a atenção das pessoas sobre a realidade que vivemos. Quis fazer algo relacionado à enchente, por estarmos enfrentando a maior cheia da história. Então pensei em trazer, de alguma forma, a nossa realidade, mas com um olhar artístico, poético e que convidasse as pessoas a uma reflexão”.

Inspiração

A inspiração para o trabalho veio quando o artista percebeu as ruas sendo tomadas pelas águas, e as pessoas seguindo suas vidas em meio a uma nova realidade, enquanto a natureza se transformava. Uma nova rotina seguia ao seu redor. A ideia se desenvolveu em torno de mostrar que mesmo com todas as limitações que as pessoas enfrentavam na cheia ainda existia beleza.

“Vi as garças cada vez mais próximas à população devido à elevação das águas. Foi quando imaginei: por que não usar uma bailarina representando essa garça, trazendo a leveza, a pureza, a esperança e a renovação, em contraste com as dificuldades”.

‘Elevê Acaraú’

O ensaio ganhou o nome de ‘Elevê Acaraú’ pela junção dos dois termos, Elevê, do balé clássico, e Acaraú, do tupi guarani, que significa ‘Rio das Garças’.

A bailarina faz movimentos de elevação, conhecidos como ‘Elevê’ no balé clássico, suspensa na ponta dos pés. E foi assim que nasceu a ligação entre o movimento de elevação da bailarina com a subida das águas.

“Nossa proposta era trazer esse olhar para as pessoas, mostrar a realidade enfrentada. Em meio à dificuldade pode brotar vida. Se nos unirmos através da arte, as pessoas vão se sensibilizar”.

Inicialmente, a bailarina Aglynes Máina conta que ficou preocupada com a proposta do ensaio. Ela dança desde os 3 anos, mas nunca em lugares inusitados.

“Não imaginei como seria fazer posições de balé em cima de pontes. As pessoas ficaram olhando, havia crianças brincando por lá. Foi muito diferente de tudo que já fiz. Fiquei muito feliz com o resultado”.

E é assim, unindo arte e sensibilidade, que a cidade vai ganhando uma nova roupagem em meio ao fenômeno da natureza.

Fotos: Gledson Oliveira