Maloca Resenha: Harry Potter part. II
Na segunda parte desse “Maloca Resenha”, continuamos a tratar de atualidades tendo como base o mundo bruxo de Harry Potter. A saga certamente faz parte das memórias de infância e adolescência de muitos jovens. A narrativa é humana e conscientizadora. Introduz-se temas como a importância das amizades, o poder do amor, a superação de um luto e a força necessária para lutar pela defesa de seus ideais.
Pureza Racial e Eugenia:
Na saga, “aquele que não deve ser nomeado”, e seus seguidores propagam o conceito de pureza racial e superioridade da comunidade bruxa. Baseados no mito da pureza racial perseguiram e mataram trouxas e os chamados “sangue-ruins”. Voldemort e seus seguidores não conseguiram implementar o Estado de Exceção “sonhado”, sendo obrigados a viverem no anonimato. No entanto, seus apoiadores continuam reverenciando Lord Voldemort e seus ideais eugênicos e conspirando para o seu retorno e derrocada da coexistência bruxo-trouxa.
Vale a discussão acerca da ciência eugênica e como substanciou genocídios e ascensão de regimes de exclusão, autoritários e desrespeitadores de garantias e direitos. A título de contextualização, o mesmo argumento foi usado para justificar o Holocausto, uma das maiores barbáries da história da humanidade.
Francis Galton, desenvolvedor da ciência da eugenia, acreditava serem as capacidades humanas resultantes muito mais da hereditariedade do que da educação. Pregava os conceitos de procriação consciente entre os ditos “bem dotados biologicamente” e o aperfeiçoamento social.
Ascensão do Fascismo:
O nazismo levou ao extremo a falácia da pureza racial e eugenia. O holocausto matou nos campos de concentração mais de 6 milhões de judeus e sagrou-se como um dos maiores genocídios da história da humanidade.
Por fim, é extremamente necessário manter-se atento a novas tentativas de oferecer soluções ideológicas arreigadas à “competição” e “seleção biológica”. Tais ideologias e/ou teorias são perigosas e potencialmente assassinas e representariam um retrocesso sem precedentes.
Na saga de Potter, os ditos “sangue puro”, apegados a tais conceitos promoveram a violência e o extermínio. Em nome de uma pseudo supremacia da raça bruxa baseada em critérios biológicos/hereditários instaurou-se um estado de terror e conflito.
Grupos Paramilitares:
Na saga do menino bruxo, existem dois grupos organizados e bem delimitados, quais sejam, Comensais da Morte e Ordem da Fênix, tais grupos tem objetivos diametralmente opostos. Pela ascensão de Lord Voldemort os Comensais da Morte organizam-se e não medem esforços até alcançarem o seu objetivo principal que é o retorno de seu mestre. A Ordem da Fênix, por sua vez, objetiva a preservação do mundo bruxo e a coexistência com o mundo trouxa, também tem por finalidade o combate a arbitrariedade e corrupção do alto escalão bruxo e por fim faz oposição aos Comensais e suas práticas nefastas.
O grupo “Comensais da Morte” era constituído por bruxos e bruxas supremacistas puro-sangue radicais, que praticavam as Artes das Trevas. Os seguidores de Voldemort atuaram nas duas Guerras Bruxas. Vestiam capuzes negros e máscaras com fendas dos olhos de cobra para cobrir seus rostos. A Marca Negra nos antebraços era uma exclusividade dos membros do círculo interno.
A Ordem da Fênix era uma sociedade secreta fundada por Alvo Dumbledore para se opôr e lutar contra Lord Voldemort e seus Comensais da Morte. Eles responderam ao chamado à guerra feito pela Armada de Dumbledore e atuaram ao lado de Potter na Batalha de Hogwarts.
Em princípio, entenda o conceito de forças paramilitares que são associações civis, legalmente formalizadas ou não, que já em sua origem ou a partir de determinado momento, procuram se armar, estruturar e atuar ou funcionar de maneira similar a uma força militar estatal. Frisa-se que no Brasil, associações paramilitares são proibidas, segundo a Constituição Federal de 1988.
Tratando-se do alvo dos grupos paramilitares, independente das suas constituições e integrantes, ou melhor, saindo da dicotomia bem e mal da ficção do Harry Potter, é o Estado Democrático de Direito. Essa determinação é importante, justamente para que possamos entender a extensão do dano à organização política da sociedade e a nocividade dos grupos paramilitares.
Paramilitarismo e o risco ao Estado Democrático de Direito:
A grande questão é a possível usurpação das prerrogativas do Estado pelo grupo paramilitar e consequentemente os riscos decorrentes de uma ação não regulamentada e ilegal. Em um Estado Democrático de Direito desenvolvem-se mecanismos de tutela dos conflitos de interesses individuais, coletivos e difusos; ou seja; o objetivo é impor certa ordem e autoridade resguardando o regime e garantias fundamentais constitucionais. Toda essa questão se não observada pode desencadear arbitrariedades, violência e até uma guerra civil, portanto, necessário coibir veementemente os grupos paramilitares.
Na saga existe a fantasia e divisão em grupo do bem e grupo do mal, no entanto, se os enxergarmos como o que de fato seriam, grupos paramilitares, nessa configuração, representariam igual perigo a ordem e a democracia.
Guerra:
A saga reserva em seus momentos finais a já esperada guerra entre o bem e mal. A Batalha de Hogwarts foi a última batalha da Segunda Guerra Bruxa. Voldemort, descobre que Potter estava no castelo para localizar e destruir uma de suas últimas horcruxes, então, ordena aos Comensais da Morte e todas as criaturas a ele leais que ataquem a escola. Do lado de Potter, a Armada de Dumbledore convocou a Ordem da Fênix e aliados. Enfim ocorreria a grande batalha
Foi a batalha mais devastadora da guerra. A batalha terminou com a vitória de Potter, com muitos Comensais da Morte e o próprio Voldemort mortos, mas também Remo Lupin, Ninfadora Tonks, Severo Snape, Fred Weasley e outros combatentes de Hogwarts.
Sobre esse aspecto, em termos não ficcionais, vale a discussão acerca das tendências globais da guerra e o seu impacto humanitário. De acordo com artigo publicado no site do CICV – Comitê Internacional da Cruz Vermelha, uma série de tendências está mudando a forma do CICV pensar a ajuda às pessoas encurraladas pelos conflitos.
Tendências Globais da Guerra:
Segundo o artigo, atualmente, dois bilhões de pessoas são afetadas pela fragilidade, conflito ou violência e, até 2030, metade dessas pessoas viverão na pobreza extrema. Faz referência, também, ao ano passo, onde se observou um número recorde de 68,5 milhões de pessoas deslocadas devido à violência e conflito. E por fim, frisa existir um total de 120 milhões de pessoas no mundo inteiro dependentes de algum tipo de assistência humanitária.
Resumidamente, o CICV elenca as tendências mais preocupantes: As guerras estão durando muito mais tempo do que costumavam há 20 anos; As guerras são travadas com mais frequência em áreas urbanas densamente populosas; As causas reais da violência não são evidentes, sendo difíceis de abordar costumando serem uma conjunção de fatores; Os atores armados são mais numerosos, mais radicalizados, mas também menos politizados e menos estruturados; As guerra envolvem parcerias, alianças e coalizões, levando a uma diluição da responsabilidade, uma fragmentação da cadeia de comando e um fluxo de armas sem controle; E por fim, percebe-se armas cada vez mais letais e sofisticadas.
A Guerra Bruxa ficcional representou os impactos imediatos de uma guerra, quais sejam, a destruição, o desespero e as mortes. Muito embora não se perceba ou se negligencie os impactos severos e a logo prazo de uma guerra é urgente que a comunidade internacional e a sociedade entenda que se trata de uma problemática humanitária, portanto, global.
*Série inspirada no “RedaçãoPop” do Influenciador Lucas Felpi.
Veja também: Portal Maloca – Maloca Resenha: Harry Potter I