Maloca Resenha: Harry Potter part. I
Nessa segunda “Maloca Resenha” discutimos atualidades tendo como base a obra memorável e marco da cultura pop Harry Potter. Os livros de Harry Potter conseguiram cativar uma legião de fãs leais ao redor de todo o mundo. Mais tarde, espectadores que encontraram conforto, entretenimento e refúgio no mundo do menino bruxo.
Harry Potter foi uma verdadeira febre mundial. A grandiosidade da saga entrou para história. A obra foi traduzida para 80 línguas, segundo o NPR. Harry Potter virou uma marca, ganhou livros extras, itens de coleção, jogos de videogame e até parques de diversão na Disney.
Potter é um garoto órfão que teve os pais assassinados quando tinha um ano por Lorde Voldemort. O “menino que sobreviveu” escapa ileso, apenas com uma cicatriz em forma de raio na testa. Voldermort não contava com o sacrifício de Lílian, mãe de Harry, pela vida de seu filho.
Quando completa 11 anos, Potter descobre que é um bruxo. A caminho da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, conhece Rony e Hermione, seus melhores amigos e fiéis companheiros.
Maus Tratos:
Potter é um garoto órfão que mora com os seus tios, os Dursley. Harry Poter é submetido a um tratamento degradante, humilhante e exclusivo. É notório a discrepância de tratamento em relação ao seu primo e os maus tratos diários. A saga, principalmente no primeiro filme, qual seja, Harry Potter e a Pedra Filosofal, mostra o terror vivido por Harry enquanto “adotado”.
Vale uma abordagem geral sobre dois temas de suma importância a fim de enriquecer o debate: “Maus tratos” e “Adoção no Brasil”.
Quando tratamos de maus tratos é assustador que a parcela que deveria ser mais protegida é frequentemente negligenciada e sofre violações cotidianas de seus direitos e garantias. Vulneráveis, crianças e adolescentes são alvo de todos os tipos de violência; os sofrimentos são múltiplos e ao algozes plurais indo da família ao Estado.
É uma realidade dolorosa mas também preocupante. A violência contra menores é responsável por altas taxas de mortalidade nessa faixa etária (crianças e adolescentes). Evidente ser urgente uma resposta séria e efetiva da sociedade.
Importante salientar também que as experiências vividas na infância e na adolescência, positivas ou desfavoráveis, refletem-se na personalidade adulta. A violência gera os mais desprezíveis sentimentos como o desamparo, o medo, a culpa e a raiva e desdobram-se em comportamentos tóxicos e distorcidos.
Na saga Harry é extremante retraído e sem confiança, certamente, fruto dos traumas sofridos durante os anos de maus tratos. Felizmente, no decorrer do seu desenvolvimento, Harry consegue com apoio de grandes amigos superar as dificuldades de sociabilidade.
Adoção:
No que se refere à adoção no Brasil, de acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), existem, aproximadamente, 47 mil crianças e adolescentes em situação de acolhimento no Brasil. Deste total, 9,5 mil estão no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) e apenas 5 mil estão, efetivamente, disponíveis para adoção.
A questão da adoção no Brasil também apresenta um peculiaridade, exige-se um perfil dos adotados, um perfil branco – 14,55% só adotam crianças brancas; na primeira infância – 58% aceitam apenas crianças até 4 anos de idade; sozinhas – 61,92% não aceitam adotar irmãos; e sem comorbidades – 61% só aceitam crianças sem nenhuma doença. Quando confrontados com a realidade brasileira, percebe-se que é um perfil inatingível.
Na saga de Potter ele é adotado pelos tios, não se aprofunda acerca dessas problemáticas brasileiras, no entanto, válido contextualizar.
Amizade e Comunidade:
Na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts existem casas de estudantes, quais sejam, Grifinória, Lufa-Lufa, Corvinal e Sonserina. Os integrantes são selecionados pelo “chapéu seletor” de acordo com as características que definem a casa. É como se se estabelecesse um padrão comportamental que os legitimassem a integrar o grupo/comunidade.
É uma apologia a vida em sociedade, guardada as devidas proporções, integramos grupos e tribos de acordo com nossas preferências, estilos de vida e aspirações. A vida em comunidade é inerente ao ser humano, naturalmente sociável.
Vale o debate acerca da questão do sentimento de comunidade que é percebido em uma localidade específica, como um bairro residencial, condomínio, vila e afins, e os vários benefícios decorrentes, tanto a nível individual quanto à nível comunitário.
Individualmente, quanto maior for o sentimento de comunidade, maior será a participação nos processos da comunidade, suporte social e satisfação e qualidade de vida. Comunitariamente, quanto maior for o sentimento de identidade e de pertença, maior será a probabilidade de comunidades saudáveis e sustentáveis.
Em termos práticos, a melhoria da qualidade e satisfação de vida percebida através do sentimento de pertencimento a uma comunidade é diretamente influenciada, por componentes específicos e dominantes da vida, como a família, os amigos, a escola, os vizinhos e o bairro. Como consequência, cada vez mais se verifica uma maior organização e mobilização das comunidades em torno dos seus próprios problemas e necessidades, com base nas suas potencialidades e recursos.
Na saga de Potter, o menino bruxo pertence a casa de Grifinória, no entanto, o momento da seleção foi extremante conturbado e cheio de dúvidas. Harry apresentava características e um padrão que o enquadrava na casa de Sonserina. Potter escolhe Grifinória que era a sua outra opção.
Imprensa Sensacionalista X Imprensa Profissional:
Na saga faz-se uma crítica à imprensa de tabloides, frequentemente atrelada à Inglaterra, país da escritora. A imprensa é retratada como tendenciosa, partidária e sensacionalista.
A imprensa sensacionalista em Harry Potter é personificada por Rita Skeeter, a famosa repórter d’O Profeta Diário e sua Pena de Repetição Rápida e por Xenofílio Lovegood. Rita incessantemente distorce a verdade à sua própria maneira, inclusive atuando como animaga ilegal para extrair informações. Já Xenofílio, o editor sofreu censura em clara alusão à relação regimes autoritários e imprensa.
Modernamente, por mais que seu conteúdo soe absurdo e engraçado, a imprensa sensacionalista, aproxima-se tanto da imprensa profissional e de suas linguagens que, por muitas vezes, consegue ser creditado como verídico, legítimo e confiável.
Ideologicamente, pensa-se a imprensa como portadora de funções importantes na sociedade. Mais do que isso, a imprensa é de fundamental importância para a construção de uma sociedade democrática, atuando como um agente político da transformação social por meio do debate, discussão, conscientização e informação. Nesse cenário, entendia-se que o jornalista precisava estar ciente de que seu ofício: subsidiar a população, para que, a mesma, alcance sua independência intelectual, portanto, deveria ser técnica e ética.
Notícia como um produto:
Com o decorrer da história o jornalismo, como instrumento de divulgação de notícias engajadas em grandes lutas políticas, começa a abandonar suas características ideológicas passando a privilegiar assuntos de “interesse do público” e não mais temas de grande relevância social. A notícia torna-se, portanto, um produto, e como qualquer produto, está à venda para ser consumida.
O jornalismo, então, se desprende de seus compromissos e valores, e passa a dar espaço a produções sensacionalistas, perdendo a sua função social primeira, qual seja, garantir o pleno exercício da democracia. Como consequência direta desse fenômeno, ao buscar a informação desesperadamente, por pontos e audiência, os “jornalistas” acabam se esquecendo de regras básicas e principiológicas do jornalismo, como ouvir todas as partes envolvidas, conferir as informações antes de divulgá-las, e, principalmente, não condenar previamente suspeitos ou acusados, e pior, produzem a desinformação e a ignorância.
Na saga, mostra-se uma mídia tendenciosa e partidária. Em uma claro paralelo a imprensa sensacionalista. A imprensa em Harry Potter seleciona a narrativa, deturpa os fatos, ergue e mantém monopólios e dita os caminhos da sociedade.
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