Da hora em que acordam até o fim do dia, Ágatha e Duda são monitoradas. Fadiga, batimentos, deslocamentos em quadra. Todas essas informações ajudam na preparação da dupla que representará o Brasil nos Jogos de Tóquio. E com a interrupção do planejamento devido à pandemia de Covid-19, essas ferramentas se tornaram ainda mais importantes para uma retomada em alto nível.
Depois de seis meses afastadas das competições, Ágatha e Duda deram uma amostra de que a recuperação foi bem feita. No primeiro torneio pós isolamento social, as duas se sagraram campeãs na Holanda.
Equipe interdisciplinar e incorporação de tecnologia:
Desde o início da parceria, em 2017, a dupla montou uma equipe interdisciplinar e incorporou a tecnologia na preparação rumo às Olimpíadas. Hoje são feitas análises em três vertentes principais: saltos, medindo a fadiga da musculatura das pernas com o uso de um tapete especial; variabilidade/atividade de prontidão, que avalia a resposta do corpo das atletas ao acordarem; e cargas, acompanhando o deslocamento com GPS e a frequência cardíaca.
Esta última medição é feita diariamente nos treinos em quadra e também nos jogos. As informações são refletidas em tempo real no tablet do preparador físico Renan Rippel, que as interpreta e repassa ao técnico da dupla, Marco Char.
– Antes era muito empírico. A gente identificava a olho nu se estava forte ou fraco o treino. Hoje não. “Aqui ó, não está bom o treino, metabolicamente vocês não estão chegando nas zonas ideais de frequência, está lento, vamos forçar um pouquinho mais.” Essa troca, tanto com o técnico quanto com elas ao vivo, realmente a gente consegue produzir muito mais – disse Renan.
Análise individualizada:
As análises individualizadas também permitem a customização dos treinos pelas diferentes idades e funções táticas desempenhadas pelas jogadoras. Ágatha é 15 anos mais velha que Duda e atua como bloqueadora, precisando se deslocar bem mais na areia e atuando numa zona cardíaca mais alta por mais tempo.
– No meu caso que sou uma atleta mais experiente, que já tenho 37 anos, a tecnologia me ajuda absurdamente. É aquele algo a mais que vai ajudar a descobrir se o treino para mim foi muito mais forte, se eu preciso de um tempo a mais de recuperação. (…) A tecnologia veio para ajudar, então a performance, a tendência é ficar no mais alto nível ainda – disse a medalhista olímpica.
Dados à disposição no celular e em artigo científico
Uma vez encerrado o treino, os dados são enviados para os celulares das jogadoras. Ágatha prefere não se influenciar tanto pelos números e receber as orientações diretamente da comissão técnica. Duda gosta mais de se inteirar sobre as estatísticas.
– Eu pego o celular, vejo o quanto eu gastei de calorias, o quanto foi a intensidade do treino, se foi na zona vermelha, amarela. Então é muito divertido, eu adoro ver.
Quem também recebe esse material é o fisiologista Renan Nunes, que colabora à distância. Radicado em Santa Catarina, ele baixa as informações e alimenta um largo banco de dados que permite analisar os ciclos das jogadoras em períodos de treinos e competições.
Essas informações, inclusive, foram divulgadas no Journal of Sports Medicine & Physical Fitness. Em um artigo científico publicado no início deste ano, Renan compartilhou informações de 100 partidas da dupla na temporada 2017/2018, com a análise da performance e do condicionamento físico da dupla.
– A gente vai entendendo o comportamento ano pós ano e também etapas por etapas. Os dados muitas vezes servem para entender se muda um perfil, como e quando precisa recuperá-las nesses treinos.
– O que mudou um pouco foi a questão da pandemia. Teve uma diminuição das cargas. Por mais que tivesse treinando em casa com atividades, mas estava muito longe do que elas estavam acostumadas. É preciso construir novamente essas cargas para que elas retomem forma gradativa e cresçam constantemente. Como a gente faz esses ajustes para chegarmos próximo da competição e não elas estarem cansadas, mas adaptadas para esse treinamento.
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Fonte: GE