Na manhã desta quinta-feira (26/12), o Brasil perdeu um dos maiores ícones da dramaturgia nacional. Ney Latorraca, ator de verve irônica e humor refinado, faleceu aos 80 anos, deixando um legado inesquecível nos palcos e nas telas. Entre os inúmeros personagens que marcaram sua trajetória, destaca-se o Conde Vlad, da novela Vamp (1991), papel que eternizou sua genialidade e carisma.
Os primeiros passos na televisão
Nascido em Santos, São Paulo, Ney Latorraca começou sua carreira na televisão com atuações discretas, fazendo figuração em novelas como Beto Rockfeller (1968) e Super Plá (1969), na extinta TV Tupi. Sua oportunidade veio por meio da atriz Lilian Lemmertz, que o indicou à Record, onde ele participou de diversas produções antes de ingressar na TV Globo.
Na emissora, Latorraca integrou o elenco de grandes sucessos como Escalada (1975) e Estúpido Cupido (1976), cravando seu nome entre os grandes nomes da televisão brasileira.
De Ernesto Gattai a Anabela Freire: a versatilidade do mestre
Nos anos 1980, Ney Latorraca demonstrou sua capacidade de transitar por diferentes papéis e estilos. Em 1984, na minissérie Anarquistas Graças a Deus, adaptada do romance de Zélia Gattai, ele interpretou Ernesto Gattai, um anarquista italiano que enfrentava dilemas éticos enquanto motorista de famílias ricas.
Já em Um Sonho a Mais (1985), Latorraca brilhou ao interpretar cinco personagens distintos, entre eles Anabela Freire, mostrando sua versatilidade ao encarnar, com perfeição, uma figura feminina.
O humor revolucionário de TV Pirata
No final da década de 1980, Ney alcançou um novo patamar de popularidade com o humorístico TV Pirata. Foi no papel do velhinho Barbosa que o ator deixou sua marca na comédia televisiva. “Quando era o Barbosa, nunca imaginei que seria aquele sucesso. Ninguém esperava que aquilo fosse funcionar como uma mudança [no humor]”, revelou em entrevista à Folha, em 2007.
O vampiro imortal
Em 1991, Ney retornou à TV Globo com um dos papéis mais icônicos de sua carreira: o Conde Vlad, chefe dos vampiros em Vamp.
O personagem cativou o público com seu humor sarcástico e foi tão marcante que ganhou uma versão teatral.
Anos depois, em O Beijo do Vampiro (2002), Ney voltou ao universo dos vampiros, desta vez como Nosferatu, em uma trama que o colocou frente a frente com outro grande nome da dramaturgia, Tarcísio Meira.
Um legado eterno
Com uma carreira que atravessou gerações, Ney Latorraca não foi apenas um ator; foi um criador de momentos e personagens que ficaram para sempre na memória do público.
Sua morte marca o fim de uma era na dramaturgia brasileira, mas seu legado seguirá vivo, como as estrelas que brilham em noites de recordação.
Fonte: Folha de S.Paulo
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